Vida, propriedade e liberdade.

Olá.

No seio de nossa comunidade, eventualmente surgem diálogos abordando os aspectos teológicos da nossa organização fraguista. Entre tais temas, que domesticamente chamamos “questões religiosas”, há um que é especialmente profílico em suas aparições: como o Fraguismo concebe Deus?

Nos parece que, para responder a essa questão de forma satisfatória, é necessário (e deve ser feito antes) efetuar alguns apontamentos sobre o Teísmo. “Teísmo”, como é corrente, é o termo referente à doutrina que afirma que Deus existe, e, mais, que atua no mundo de forma eficiente, conforme seus desígnios. Ser teísta, portanto, é uma posição que pode ser desdobrada em duas afirmações: 01. “Deus existe”; e 02. “Deus atua no mundo (de forma eficiente)”.

Quanto à primeira afirmação (“Deus existe”), a resposta é a de que o Fraguismo concebe a existência de Deus. Os argumentos teológico-filosóficos para tal afirmação são muitos, e se renovam e se acrescentam a cada vez em que temos nossas carinhosas discussões a respeito, passando pelas Cinco Vias de São Tomás de Aquino e as três provas “a priori” de René Descartes. Isto quando estamos apenas nos argumentos, digamos “racionais” – que são dispensáveis “in totum” quando a fé individual comprova plenamente a existência de Deus.

A respeito da segunda afirmação (“Deus atua no mundo(…)”), a resposta é a de que o Fraguismo reconhece que Deus (cuja existência já foi reconhecida) atua no mundo. A respeito dessa atuação, nossas argumentações fraguistas são mais, digamos, “discretas”, e a “atuação inteligente” (voluntária) de Deus é bastante citada no contexto de sua existência: “Deus existe, porque fez (…)”. É compreensível que seja assim, pois a simples procura pela expressão “Deus atua no mundo” no buscador do Google dá mais de duas mil e quinhentas respostas!

É interessante notar como a “questão religiosa” da existência de Deus é bastante presente em nossa comunidade, e, inclusive, possui uma decorrência citada por todo Fraguista, quando, em seu momento solene, inicia a Oração Fraguista com a afirmação de que “pelo desejo do nosso Criador, nascemos todos livres”. Ora, se nascemos todos livres “pelo desejo do nosso Criador”, é porque o nosso criador (que existe) desejou (ou seja, teve vontade e norteou sua atuação eficiente) para que assim fosse.

A a Oração Fraguista segue: “nosso direito, imutável pela vontade humana, é o natural”. A Oração reflete nosso entendimento: o Direito Natural é imutável pela vontade humana, pois é dádiva do Criador (que existe, e atua). E, além da Oração Fraguista, é possível encontrar traços da mesma inteligência na Oração de Início da Ágora Fraguista, quando informa que “somos todos iguais e nossos direitos vêm do nosso Criador”.

Perceba-se, também, que o Fraguismo é uma religião monoteísta (uma outra “questão religiosa” sobre a qual os fraguistas gostam de se debruçar); afinal, nascemos todos livres “pelo desejo do nosso Criador”, e não “dos nossos Criadores”, conforme a Oração Fraguista, que já citamos.

Bem, tendo essas “questões religiosas” bem pontuadas, é importante esclarecer o uso do termo “Criador” como referência a Deus. Nosso objetivo aqui foi o de preservar o íntimo da fé que deve se manter individualizado, vivente e em harmonia com o próprio coração do fiel. Como comunidade, reconhecemos duas coisas: a primeira é o fato de não termos todas as respostas; a segunda é a verdade de que “a menor minoria na Terra é o indivíduo” (Rand). Assim, optamos por nomear, coletivamente, “aquele que Cria”, à entidade fundamental. Nada impede, entretanto, que fraguistas que compartilhem visões religiosas de forma mais específicas se unam em linhagens, entrelaçando tais visões com nossos Princípios Fundamentais.

A pontuação final que desejamos fazer é que o Fraguismo não deixa de acolher e dar guarida e voz para aquele que nos procurar, mesmo que seja ateu ou ainda esteja buscando entendimento, caso ele respeite e tenha compromisso com nossos Princípios Fundamentais (Não-Agressão, Lei Natural, Propriedade, Liberdade, Voluntariedade, Boa-Fé, Responsabilidade pelas Escolhas Individuais, Atividade Produtiva e Comércio). O Fraguismo considera que essas pessoas, embora não compartilhem a crença em Deus, possuem muito a compartilhar, e podem encontrar na nossa comunidade um espaço em que esteja, discutam, aprendam, ensinem, cresçam e criem laços, encontrando e vivendo seu caminho. Além de acolhidas, não serão julgadas pela forma como pensam, mas sim por suas palavras e atitudes – que podem conduzir ao desempenho de trabalhos de importância e ao reconhecimento pelos membros de nossa comunidade, inclusive.

Esperamos que as explanações tenham sido proveitosas.

Vida, propriedade e liberdade.

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